Se fosse um artigo sobre alta moda seria sacrílego renegar o preto. Entretanto muitos professores de arte abandonam a nobre cor.
O que se diz é que preto e cores terrosas podem " sujar" a pintura. "Lamear" ou "enlamear".
E eu que tenho xodó pelas cores preta e terrosas ?
Ao levantar a questão ouvi sugestões para escurecer...ou "pretejar" (hehehe) as sombras nas minhas pinturas. Por exemplo adicionar ao vermelho profundo ou ao azul um pouco de marrom bem escuro...realmente fica bonito.
Usar alguns azuis ou vermelhos sem diluição...Professores da atualidade preconizam o uso das cores puras primárias. Igualmente gostam das que tem valores altos (claras).
Correto! Tem muita lógica partir das cores puras. Porém existem vários pretos comercializados ( Lamp Black, Ivory Black, Mars Black), logo artistas ainda usam...então vamos entender o preto!
O termo tem origem no latim pressus, que significa “o ato da compressão” .
Obviamente a mais escura das cores, pois representa a ausência total ou parcial da luz ou seja a escuridão. A luminosidade, por sua vez se expressa em branco.
É a impressão visual que temos quando nenhuma luz visível atinge o olho, proporcionada por pigmentos ou corantes que a absorvem, ao invés de refletir (look black). É a não reflexão de cores ou ausência total de luz.
Apesar deste conceito a sensação de cor que nossos olhos tem na escuridão é de cinza escuro...Eigengrau.
Cores como vermelho magenta, amarelo e azul ciano combinados em proporções ideais devem resultar em preto pelo fato de refletirem quase nada de luz.
Esta cor controversa simboliza elegância, luto (no ocidente), magia e segredos. Obscuridade que pode ser associada ao mal, ou ao mistério.
Gregos cultuavam como cor da fertilidade simbolizada pelo solo negro.
Na antiga Roma preto era a cor usada nas vestes de artesãos.
Alemães e escandinavos antigos consideravam corvos animais sagrados, os arautos e espiões de Odin
A palavra vem do inglês antigo - Blaec (escuro ou tinta), e encontra paralelo em outros idiomas europeus antigos designando o escuro ou queimado ( carvão?).
Gregos denominavam preto - Kuanos - para indicar escuro ou queimado e também a cor azul escuro.
Interessante é que pinturas das cavernas são os primeiros registros do uso de preto, através de carvão, ossos queimados, ou pó de óxido de manganês.
Existem 50 tons de preto catalogados pelo homem e existe preto na natureza!
Esta cor tão denegrida alcançou patamar de matiz nobre depois do descobrimento das Américas. Uma madeira de árvore mexicana, campeche ou pau-de-campeche (Haematoxylon campechianum), quando ralada e submersa para fermentar, produzia um corante denso, escuro, com alta capacidade de tingimento. Tinta de campeche era extremamente cara em virtude da madeira importada. Daí a nobreza...
Pinturas da Idade Média representavam o mal através do preto que igualmente simbolizava poder e sigilo. Nos séculos XII e XII monges beneditinos usavam preto para expressar humildade.
Com a invenção de tinta preta na China a cor foi amplamente adotada na escrita desenvolvendo a arte da caligrafia.
Particularmente gosto de tinta nanquim ou tinta da China. Usei na infância para escrever, e na idade adulta na prática laboratorial em Análises Clínicas.
Iluminismo no século XVIII enterrou a cor preta, colocando tons pastéis em evidência. Foi ressuscitada na revolução Francesa.
Na época que preto era renegado pela pintura cores escuras deviam ser representadas pela combinação de vermelho, azul e amarelo.
Gustave Doré retratou Londres enegrecida pela fumaça do carvão na época da Revolução Industrial; e no romantismo preto melancólico vestia poetas e artistas, geralmente combinado com uma camisa branca.
No século XIX James McNeil Whistler pintou Whistler's Mother em preto e cinza enquanto Paul Gauguin bradava "rejeite o preto"
Édouard Manet, nas palavras de Henri Matisse que também usava preto, " fez luz com preto"!
Pierre-Auguste Renoir tentou usar misturas de vermelho e azul, mas gostava mesmo era do ivory black. Declarava que preto era a "rainha das cores"
Enquanto os impressionistas, chamados pintores da luz e subversores dos conceitos tradicionais de arte, aboliam o preto, uma das primeiras obras abstratas foi construída em negro... Kasimir Malevich pintou Black Square em 1915.
Vincent van Gogh usou preto em corvos e objetos.
Finalmente, preto foi a cor símbolo do anarquismo...
Kandinsky descrevia o preto desta forma: “Como um nada sem possibilidades, como um nada morto, após a extinção do sol, como um eterno calar, sem futuro e sem esperança: assim soa interiormente o preto”.
Black is beautiful!
E como dizia Coco Chanel:
-"A woman needs just three things; a black dress, a black sweater, and, on her arm, a man she loves."
"Uma mulher precisa de apenas três coisas: um vestido preto, um suéter preto e, no braço, um homem que ela ama."
Para ler ou pintar, talvez vestindo preto na paleta ouça...
Referências: Wikipedia; Cozinha de Pintura; FTC info+fun; Mistura de Cores, Ian Sidaway;
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